sexta-feira, 8 de maio de 2009

O terror do Boulevard de Montparnasse


Segue abaixo um trecho interessantíssimo do livro "Contracultura através dos tempos" (1), onde é relatado um dos escândalos causados pelo grupo surrealista de Breton.




Uma das mais famosas provocações surrealistas parece ter sido espontânea e localizada. Em julho de 1925, os surrealistas foram convidados a participar de um banquete formal patrocinado por Les Nouvelles Littéraires para todos os seus colaboradores. Embora muitos surrealistas escrevessem para essa estabelecida publicação literária, Les Nouvelles Littéraires apresentava muitos dos mais importantes “homens de letras” da França. Os surrealistas estavam se comportando bem ao longo do jantar, até que se ouviu a conservadora Madame Rachilde dizer:
- Uma francesa nunca deveria desposar um alemão.
Horrorizado com essa xenofobia, Breton ergueu-se e disse à mulher:
- O que você disse é extremamente insultuoso para com nosso amigo Max Ernst.
Como conta Franck*,

"Uma maçã voou pelo ar, depois outra. Breton (...) jogou um guardanapo no rosto de Rachilde, gritando:
-Puta da tropa!
A batalha continuou. A comida voava por todos os lados. A travessa de peixe com molho de creme era uma catapulta, e tudo servia como munição: vegetais frescos, a prataria, os copos, os pratos. (...)
Philippe Soupault respirou fundo, se agarrou no candelabro, ficou pendurado se balançando e acertando qualquer um que passasse. Vindo de uma sala contígua, Louis de Gonzague Frick, por sua vez, se lançou sobre os surrealistas. Uma multidão estava reunida na calçada. Max Ernst colocou as mãos em concha junto à boca e gritou:
- Abaixo a Alemanha!
Michael Leiris respondeu:
- Abaixo a França!
- Viva a China!, gritou alguém.
- Viva os africanos!, gritou outro."



Notas do Blog:

* Dan Franck nasceu em Paris no ano de 1952, estudou Sociologia na Universidade Sorbonne. Atualmente é escritor e roteirista de cinema e televisão. Este trecho faz parte de seu livro “Boêmios”.

1: GOFFMAN, Ken e JOY, Dan. Contracultura através dos tempos. Ediouro, 2004. (trad.: Alexandre Martins)

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