Adeus para sempre, rainha das fadas! Excusez un peu... Que grande constipação física! (Álvaro de Campos) Extraído de: http://www.revista.agulha.nom.br/facam38.html
Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
0 que fui outrora foi um desejo; partiu-se.
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.
Preciso de verdade e de aspirina.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Tenho
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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Cajuína cristalina em Teresina
Torquato Neto (1944-1972)
Cogito
eu sou como eu sou
eu sou como eu sou
eu sou como eu sou
eu sou como eu sou
Literato cantabile
agora não se fala mais
a guerra acabou
Agora não se fala mais
Agora não se fala nada
Você não tem que me dizer
só tem que me dizer
não tem que me mostrar
quando eu nasci
da Série "Sintonia de nossa Sincronia": Torquato Neto.
seleção e nota: Fabiano Calixto e Ricardo Domeneck
Post extraído do blog http://revistamododeusar.blogspot.com/2008/03/torquato-neto-1944-1972.html
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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
A linguagem parece sonhar
Saussure, o pai da lingüística moderna, uma vez começou a estudar anagramas latinos - um corpo poético obscuro, usado em grande parte ocasionalmente - para ver que provas eles poderiam conter a respeito da natureza da linguagem. À medida que ele comparava os anagramas com outros tipos de poesia latina, começou a perceber anagramas nestes outros textos. Certas letras, sempre formando palavras que reforçavam o assunto do poema, estavam embutidas e padronizadas de acordo com a superfície lingüística dos textos. Quando ele investigou a prosa latina, também encontrou anagramas. Poesia latina medieval? Mais anagramas. Mesmo a poesia moderna, escrita por estudiosos, trazia tal sintoma. Seria uma conspiração bizarra, uma tradição passada silenciosamente de poeta a poeta, mas alheia à filologia? Saussure começou a agir de forma estranha. Escreveu uma carta a um professor de literatura clássica, que vivia na Suíça e era conhecido por seus versos em latim polido. "Por que sua poesia está cheia de anagramas?", perguntava Saussure. "O que está acontecendo?" Desnecessário dizer que ele não obteve resposta. Nesse ponto, Saussure cambaleou para trás como se estivesse sentindo a vertigem de cair num abismo. Ou a conspiração era real, ou então a própria linguagem era a fonte de tantos anagramas. A própria linguagem tinha uma espécie de inconsciente, um processo onírico, que se organizava em jogos sinistramente sagazes, de palavras sobre palavras, de palavras dentro de palavras, significativos anagramas ocultos, embutidos, inscritos em todo texto que ele examinava. Havia um nível de linguagem além da langue/parole, do signo e do significado? Ou ele estava enlouquecendo? Abalado, Saussure abandonou o projeto. (1)
Nota:
1 - Veja o estudo de Jean Starobinski (1979) sobre os cadernos não publicados de Saussure sobre anagramas, Words Upon Words: The Anagrams of Ferdinand de Saussure. (N. A.)
Extraído de:
Peter Lamborn Wilson - Chuva de Estrelas : o sonho iniciático no sufismo e taoísmo
Postado por lalb às 14:50 0 comentários
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